Na segunda e terça-feira
passadas, a comunidade da Escola Estadual Cel. José Alves Ribeiro, sediada em
Aquidauana, MS, foi surpreendida pela agressão física ocorrida entre dois
estudantes do Ensino Fundamental. Na manhã da segunda-feira, durante o
intervalo, ainda em sala, colegas filmaram com o celular a agressão desencadeada
por uma brincadeira entre os
adolescentes de 15 e 16 anos. A troca de provocações evoluiu para empurrões e,
finalmente, um soco desferido levou um deles ao chão. Novo soco, seguido de
outra queda em que o impacto com uma carteira ocasionou um corte atrás da
orelha direita do mais agredido.
Atendido
na coordenação e, depois, na direção, o estudante recebeu os primeiros socorros
e, como de costume nesses casos, os dois envolvidos foram chamados para uma
conversa. Ambos foram ouvidos e mais uma vez orientados sobre a necessidade de
praticarem a tolerância, a convivência, o respeito ao outro. Também foram
relembrados de suas participações em várias campanhas contra o bullying e a
violência na escola. Mais uma vez foram advertidos de que ambos perderam a
razão ao cederem à agressão verbal e física, visto que poderiam pedir ajuda a
um funcionário, aos professores, à coordenação ou à direção escolar, conforme sempre
foram instruídos até agora e reiterou-se a necessidade de iniciar o ano em um
clima de boa convivência. Ao final da conversa, um pediu desculpas ao outro e
os dois se comprometeram a se respeitar. O aluno machucado explicaria o
ocorrido a sua mãe e aguardaríamos retorno.
Na
terça, após a saída de professores e alunos às onze horas e vinte e cinco
minutos, na esquina próxima à praça externa da escola, o aluno agredido no dia
anterior resolveu revidar e novamente estudantes filmaram a cena e repassaram a
seus contatos no whatsapp e facebook. Ao retornarmos no período
vespertino, ouvimos comentários sobre um vídeo, e já não era um, mas dois ou
três e só tivemos acesso às imagens com a ajuda de funcionárias. Orientada pela direção escolar, a coordenação
pedagógica entrou em contato por telefone com a mãe de um dos estudantes,
residente em área rural, e solicitou sua presença na manhã de quarta-feira,
pois até aquele momento não recebera qualquer ligação como esperado desde
segunda. Mãe e padrasto compareceram e,
após demorada conversa com as diretoras e coordenadora, primeiro em particular
e depois à presença do filho, a equipe imaginava um desfecho orientado pelo bom
senso entre as partes, pois o padrasto
de um dos alunos declarou ser amigo de infância do pai do outro adolescente, e
pretendia procurá-lo para se entenderem. Ainda nesse dia, a mãe do outro
estudante também foi chamada e conversou demoradamente com as diretoras.
Pior que o
impacto da violência praticada pelos colegas de turma foram algumas implicações
na repercussão do fato. Causam espanto e indignação, sim, a violência entre
estudantes que já conhecem a nossa rotina de convivência, as regras previstas
no Regimento Escolar e o trabalho desenvolvido pela equipe escolar com
palestras, campanhas, projetos e parcerias para incentivar a tolerância, o
respeito ao outro e a limites, o bom relacionamento entre os membros da
comunidade interna. Evidenciamos a necessidade urgente de rever estratégias ao
percebemos, no primeiro episódio, que em vez de intervirem ou pedirem ajuda,
alguns colegas se limitaram a filmar e os demais a assistir à briga. Mas
causou-nos estranheza a reação de algumas pessoas que julgávamos terem um
interesse real em contribuir para a formação de nossos alunos com um ensino de
qualidade.
Em tempos de
internet e múltiplo aplicativos, a rapidez na veiculação de imagens e dados é
assombrosa e, não raro, julgamento e condenação atropelam o real conhecimento
dos fatos. Ouvimos e lemos comentários
diversos: uns recomendando a transferência dos estudantes; outros questionando
a omissão da equipe escolar como se a escola nada fizesse; outros, ainda,
demonstrando algum apoio ou perguntando sobre a ação familiar. Se a escola
enquanto instituição atende a necessidades demarcadas por um contexto
sócio-histórico e como tal reproduz valores, ideais, princípios da sociedade
representada, então é natural que a escola invista na capacidade humana de
aprender mais que conceitos associados a áreas do conhecimento. O vídeo e a
briga entre os alunos têm um antes, um durante e um depois e, portanto, um
contexto que precisa ser avaliado livre do olhar fragmentado e tendencioso,
ainda que se respeite o direito à livre expressão assegurado pela democracia e
que nos permite, também, escrever este texto.
Como
educadores, que bom resultado haveria em transferir dois alunos à segunda
semana de aula? Neste caso, o que seria então uma política de educação
inclusiva e de respeito à multiplicidade?
E o que é educar? A equipe escolar da Escola Estadual Cel. José Alves
Ribeiro tem como missão “desenvolver um trabalho de qualidade, participativo e
comprometido com o respeito, a solidariedade, a responsabilidade, a ética, a
cooperação e a justiça, com a finalidade de solidificar o princípio da
cidadania.” Esta preocupação se reflete na parceria reafirmada com o Juizado da
Vara da Infância e Juventude ao final do ano passado e que prevê a execução do
Projeto “Escola Legal” no decorrer deste ano em nossa escola. Além disso, a
equipe gestora fundamenta suas decisões na legislação vigente, nas diretrizes
emanadas do MEC e da Secretaria de Estado de Educação, no Projeto Político
Pedagógico e no Regimento Escolar. Mesmo quando se trata de uma situação
polêmica cujo impacto seja amplificado de modo tão impressionante. E mais, a
decisão da equipe escolar ainda é e precisa ser orientada pelo bom senso.
Esta é uma
preciosa oportunidade para investir na humanidade, na capacidade potencial do e
de ser que nos difere dos animais, na possibilidade de ensinar e aprender, e de
verdadeiramente mediar. Por isso, pedimos à comunidade que, em meio a tantos
motivos para indignação, em âmbito local, regional ou nacional, tenha conosco
um pouco mais de paciência, histórica se necessário, para que possamos executar
nosso projeto de escola e de educação. Queremos que todos participem desse
processo conosco sem alijar nossos alunos e também a equipe escolar do direito
e oportunidade de mudarem para melhor.
Começamos 2014
e esperamos que a interação entre escola e comunidade se estreite ainda mais e
que semelhante repercussão atinjam as atividades culturais, as solenidades de
colação de grau ao encerramento do ano letivo, a execução do PIBID, os projetos
desenvolvidos e o serviço voluntário prestado por nossos alunos em anos
anteriores. Vale a pena ressaltar que na semana passada alunos egressos do
Ensino Médio e um grupo do Ensino Fundamental, no contraturno, auxiliaram a
técnica em biblioteconomia a carimbar e organizar os livros didáticos para
entrega. Almejamos que, igualmente, sejam conhecidos os bons resultados e
premiações obtidos pelos nossos estudantes em concursos seletivos, concursos de
redação, torneios desportivos e eventos. Queremos com muito mais intensidade e
regularidade, família e sociedade conosco na concretização de nosso projeto. As
portas da Escola Estadual Cel. José Alves Ribeiro continuam abertas. Somem
conosco em nossa missão de educar, que abraçamos com muito orgulho.